Sou empresária, advogada, modelo, consultora e, acima de tudo, uma mulher que nunca se calou diante de injustiças. No final do ano de 2024, deparei-me com algo que pensei estar enterrado no passado: o mais puro e descarado machismo. Após pleitear uma vaga como sócia do Yacht Club Ilhabela, uma instituição que deveria representar os valores de igualdade e respeito, fui alvo de uma conduta vergonhosa, preconceituosa e, francamente, repugnante. Durante quase 80 dias, fui submetida a um total descaso e falta de informação por parte da instituição, disfarçados de burocracia.
Após cumprir todas as exigências solicitadas pela instituição — ou seja, entregar documentos pessoais, certidões no âmbito federal, estadual e municipal, escritura de imóvel comprovando propriedade, registros fotográficos, ficha devidamente preenchida e assinada por dois sócios para validação, além de deixar esta exposta por 30 dias corridos no hall da instituição, aguardando um possível abono ou desabono à minha pessoa — comecei a questionar, de forma bastante incisiva, a demora por parte dos representantes da instituição.
Todo esse processo burocrático, que durou cerca de 80 dias, foi conduzido apenas por um representante administrativo da instituição que intermediava o pedido comigo. Durante esse período, ouvi inúmeras vezes que não havia um prazo definido, que eu deveria aguardar e que, afinal, quem queria ser sócia era eu. Por isso, deveria esperar sem resposta até que o Yacht Club Ilhabela decidisse avaliar meu pedido e dar uma posição. Esse processo resultou em um desgaste exaustivo e desrespeitoso, que claramente parecia planejado para me fazer desistir do pedido.
Por volta do dia 13 de dezembro de 2024, cobrei novamente uma resposta, e o representante me informou que a comissão de justiça da instituição havia emitido parecer favorável. Desta forma, meu processo estaria avançando, mas eu precisava aguardar que uma nova comissão agendasse uma entrevista comigo. Após mais uma semana, recebi, via WhatsApp, uma mensagem de um representante marcando a entrevista.
No dia e hora marcados, informei que estava à disposição para a entrevista previamente acordada. Entretanto, recebi outra mensagem dizendo que eu não seria entrevistada, sem qualquer esclarecimento sobre o motivo. Na verdade, a resposta veio à tona da forma mais vil possível: uma comunicação oficial informando que uma mulher como eu — muito incisiva, dona do meu barco e da minha voz, o que, segundo eles, não é normal para uma mulher — não seria entrevistada ou aceita naquele momento. Essa resposta foi dada por meio de uma ligação.
Não sou “normal” por que me recuso a aceitar o papel passivo que muitos ainda querem impor às mulheres e não me calo?
Não sou “normal” por que tenho um barco comprado com meu dinheiro e não por intermédio de algum homem?
Não sou “normal” por que exijo ser tratada com igualdade e dignidade?
É inadmissível que, em 2025, uma instituição que se diz prezar pela transparência trate uma mulher de maneira tão desrespeitosa apenas por ela não se encaixar nos padrões retrógrados de subserviência que ainda permeiam certos círculos.
Esta situação não é apenas um insulto pessoal, mas um reflexo da luta que todas as mulheres enfrentam diariamente contra estruturas arcaicas que tentam silenciá-las. Não aceitei calada. Que fique claro: atitudes como essa não têm lugar em nossa sociedade. O Yacht Club Ilhabela não é maior do que o direito de uma mulher de pleitear tratamento igualitário. E a mim, não resta outra alternativa senão expor essa vergonha para que sirva de exemplo e inspire outras mulheres a nunca abaixarem a cabeça diante do preconceito, bem como procurar as vias legais para reparar os danos sofridos.